Há pouco tempo, li um livro chamado “Uma Conspiração de Estúpidos” (A Confederacy Of Dunces, no original) de um escritor norte-americano chamado John Kennedy Toole. O livro e o autor têm uma relação trágica, como verão adiante.
Conta a história de um jovem de 30 anos, chamado Ignatius, que tem uma Licenciatura e um Mestrado.
É extremamente culto e inteligente, mas obeso, guloso e preguiçoso, vivendo sozinho com a mãe numa casa modesta em Nova Orleães.
Apesar das suas qualidades, não quer ter um emprego para estar bem na vida. Só quer arranjar biscates da treta em que não faça nenhum, tipo vender cachorros quentes pela rua num carrinho. Com a gula, come mais do que vende e no fim do dia ainda tem que pagar ao patrão. Passa por uma série de empregos assim. Entra num, sai, vai para outro. Em cada um, tenta fomentar uma espécie de revolta, o que faz com que acabe sempre na rua.
É extremamente arrogante e trata mal toda a gente de quem não precisa, não se coibindo de os chamar estúpidos e burros, atirando-lhes com a sua cultura para cima, mas humilha-se perante alguém de quem necessita.
Tem horror ao sexo e durante todo o livro há uma troca de correspondência absolutamente ofensiva com uma amiga de Nova Iorque que tem precisamente a opinião contrária.
No final tenta fazer um partido político e mais uma vez falha. Falha em tudo: em tomar conta da mãe idosa, em tomar conta dele, enfim, falha na vida.
Não vou contar mais nada do livro para não ser spoiler, mas é absolutamente fabuloso. O autor é também natural de Nova Orleães e tem aquela rara capacidade de descrever os lugares (a cidade, neste caso) e as gentes de um modo que nos faz ter uma percepção quase visual das coisas. Neste aspecto, diria que está quase ou mesmo ao nível de um Gabriel Garcia Márquez. De facto, a sua escrita é notável.
Agora a sua história breve e trágica. Escreveu o livro em 1960 enquanto cumpria o serviço militar. Durante 9 anos percorreu as editoras dos Estados Unidos com o manuscrito debaixo do braço e nenhuma se interessou por ele. Ao fim de tanto tempo a perseguir o sonho de o publicar, com o desgosto, suicidou-se em 1969.
Depois disso, a mãe resolveu pegar no manuscrito e continuar a cruzada do filho. Até que no final da década de 70 (20 anos depois de ter sido escrito e 10 do suícidio do filho), conseguiu que alguém se interessasse pelo livro.
Foi publicado em 1980 e ganhou um prémio Pulitzer em 1981.