eles não sabem
1/Mar/2008 @ 04:14 Sociedade

Tenho quase 40 anos.
Às vezes ponho-me a pensar em como era o mundo quando era jovem e como ele é com os jovens de hoje.

Eles não viram:

  • A Guerra Fria;
  • Os Telejornais abrirem todos os dias com os mais recentes picanços entre os EUA e a URSS;
  • O boicote por parte dos EUA aos Jogos Olímpicos na URSS e vice-versa;
  • O Muro de Berlim;
  • A queda do Muro de Berlim;
  • Duas Alemanhas;
  • Os alemães de Leste que morriam abatidos a sangue frio ao tentar passar o muro para Berlim Ocidental;
  • A Perestroika;
  • O desmoronamento dos regimes Comunistas dos países europeus de Leste;
  • A guerra na ex-Jugoslávia;
  • O ataque americano à Líbia;
  • O caça soviético que abateu um avião de passageiros;
  • O navio americano que abateu um avião de passageiros;
  • A guerra das Malvinas;
  • Não haver MultiBanco (para se levantar dinheiro era preciso entrar lá dentro com um cheque e ir para a fila que nunca mais acabava);
  • Não haver telemóveis;
  • Não haver Internet;
  • Não haver consolas;
  • Não haver computadores pessoais;
  • Não viram a inflação com 2 digítos;
  • Não haver máquinas fotográficas digitais;
  • Não haver DVD;
  • Não haver leitores de MP3;

Pergunta-se: Diverti-me, eu e os meus colegas e amigos ? Sim, à brava. Leváva-mos uma vida cheia.

Os meus pais e os pais das pessoas da minha idade, viram a guerra do Vietname, a do Ultramar (e não só viram como lá bateram com os costados), a crise dos mísseis de Cuba, o fiasco da Baía dos Porcos, o 25 de Abril, os Beatles, o Maio de 68. Tudo isto, claro está, com o que a censura deixava passar.

E olho para o Mundo e os jovens de hoje e vejo que passam a vida a babar-se em frente à televisão, cheios de tédio, a teclar SMSs no telemóvel mais rápido do que Mozart teclava o seu piano, a dar toques, agarrados às consolas, não lêem, sei lá.

Não sei se estou a ser bota-de-elástico, talvez sim, mas parece-me que a vida de rapaz e rapariga da minha geração foi bem mais interessante do que a dos de hoje.

-MG
rss 9 pás de carvão
  1. 1/Mar/2008 | 05:19

    Sou de uma geração diferente, mas também por vezes coloco essas questões quando vejo familiares mais novos e o seu estilo de vida actual.

    Lembro-me perfeitamente de ser (mais) puto e curtir à brava ver o Tom Sawyer, o Justiceiro e o MacGyver, ler livros de aventuras, andar de bicicleta como se não houvesse amanhã, fazer casas nas árvores, jogar à bola, escondidas, berlinde, pião, espeta, ir ao estádio ao domingo…
    Éramos um grupo unido, muitas dessas amizades para a vida. Nos dias de hoje isso não se verifica, preferindo os miúdos se isolar através de jogos de computador e a ver programas de tv que não lembram a ninguém… Já para não falar no vício doentio de muitos deles referente ás SMS. E se falarmos de messenger tem de ser o mais folclórico possível com mil milhões de contactos do hi5!

    Não sei se será da idade, mas cada vez menos tenho vontade de usar SMS como forma de contacto.

    Cumprimentos


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  2. 1/Mar/2008 | 05:49

    A maior parte dos eventos que aqui descreves são guerras e se a guerra é interessante prefiro viver nos dias de hoje (embora ainda as haja…)

    Tenho neste momento 25 anos mas acho que as coisas não são como tu dizes. Quem realmente quer, embora não tenha passado directamente pelo que passaste, tem hoje em dia os recursos para saber como FOI e tem uma grande vantagem em relação a ti: vão estar cá para ver o amanhã ;o)

    Não ambicionas pelo futuro? Para saber o que vai haver de novo?

    Hugz,
    Luís


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  3. António Costa
    1/Mar/2008 | 12:20

    É pah, eu também só tenho 22, e já sinto isso! Concordo plenamente com o José Santana!
    No meu tempo, apesar de ter computador desde os 6 faziam-se actividades bem diferentes das de hoje - que vejo pelo meu afilhado por exemplo!
    Muita pele arranquei de skate e de carro de rolamentos, muito me sujava com as aventuras no mato e no meio dos campos!
    Mas isto também depende se moras na aldeia ou no centro da cidade.

    Não vivi essas guerras e stresses todos que falas, mas hei-de viver outros problemas que tal, está sempre a acontecer!

    Mas que acho que as novas gerações não caminham para um bom rumo… não!


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  4. 1/Mar/2008 | 13:39

    Sou um pouco mais velho que tu (mesmo pouco) e lembro-me das férias grandes altura em que eu e os meus irmãos andávamos de bicicleta de manhã e nos púnhamos a ler da parte da tarde. Cerca das 9 horas da noite íamos para a cama. Em Angola na altura não havia televisão (em 1973 apareceu lá para o Lobito julgo, em 1974 em Luanda com distribuição por cabo e em 1975 por antena - calculada pelo Eng. Saraiva Baptista).

    O tempo para conversar era algo que não faltava. A vida social das pessoas era relativamente intensa. Era frequente sermos visitados por algum ou alguns dos amigos e amigas dos meus pais ou mais raramente serem os meus pais a deslocarem-se a casa dos amigos (isto de se ter muitos filhos retira agilidade).

    Quando a minha avó materna faleceu o meu avô foi viver connosco lá e tinha duas actividades principais, de manhã por volta das 6 horas dirigia-se à Igreja de São Paulo para a missa matinal, depois regressa lá a casa e depois do pequeno almoço começava a sua maratona de leitura.

    Na Livraria Godi tínhamos conta e podíamos comprar banda desenhada desde que fosse numa língua estrangeira ou romance ou novela em português ou francês. Até ao dia em que nos excedemos (eu e os meus irmãos) muito. Todos os outros livros de banda desenhada que quiséssemos saiam das nossas semanadas (7 escudos e meio aos meus 10 anos). Um bolo custava entre 1 escudo e 2 escudos, um copo de leite no colégio 50 centavos (os bolos lá custavam 1 escudo). O dinheiro ficava curto para a revista do Tintin, do mundo de aventuras e do FBI que tinham que ser comprados em conjunto até ao meu irmão mais velho ter começado a dar explicações de matemática e física.

    O meu avô lia em média 5 livros por semana. Ficou lá algum tempo. Era um bom contador de más histórias mas a que ele dava sempre algum calor humano. Tinha sido militar de carreira e tinha lutado no Sul de Angola em 1915, contra os Alemães potência colonial da Namíibia, embora para ele tenha sido mais o esforço de caminhar e andar de mula do que propriamente lutar. Com ele iam alguns negros carregadores os quais nas outras companhias estavam agrilhoados, na dele não ele e o oficial superior dele assim o tinham decidido, andavam mais depressa.

    Lembro-me ainda de ver no jornal uma notícia da grande vitória do General Spínola na Guiné e de o motorista que nos levava à escola (só estávamos os dois) ter dito entre dentes algo como até à derrota final - a filha dele trabalhava num departamento do exército ao pé da Mutamba. ) Lembro-me ainda do meu pai e o meu irmão mais velho por vezes ouvirem as emissões da BBC e da Deutsch Welle algo verdadeiramente em desacordo com o documento assinado por todos os funcionários públicos da altura.

    Lembro-me ainda que um tio meu levar lá para casa propaganda da guerra psicológica: discos de vinil e postais. Lembro-me que a minha mãe e as minhas irmãos mais velhas cortavam na casaca das canções, lembro-me que numa delas se queria fazer passar o Agostinho Neto por um malando (não me lembro dos detalhes). Estas actividades paravam sempre que aparecia algum dos empregados ou quando o meu tio aparecia.

    O acesso à informação de consumo rápido hoje é mais fácil. Temos acesso a muito mais informação, acho que poderemos estar é a entrar numa época em que o acto de pensar sobre a informação que temos disponível seja menos praticado.

    Mas fico fascinado com a quantidade e nalguns casos a qualidade da informação disponível em especial sobre temas científicos. Por exemplo penso hoje colocar uma entrada sobre o LHC com vários vídeos (há umas 2 a 3 dezenas) e só encontrei 3 vídeos com reflexões sobre a experiência (essas reflexões são contudo muito fraquinhas).

    Também li alguns textos sobre o mesmo. Talvez tenha gasto cerca de 10 horas a ler, posso ter ficado mais consciente de alguns aspectos específicos da experiência que se pretende levar a cabo mas foi muito mais fácil ficar com uma visão geral ao ver alguns dos vídeos (outros são só aquilo a que eu designo por pornografia visual).

    Tenho dois sobrinhos, ambos universitários. Um é mais reflectido (teve 3 anos na católica (antes de Bolonha) a fazer Gestão e ao fim desses anos resolveu mudar para História de Arte a irmã é aluna de Gestão, tendo acabado de regressar dum Erasmus na Eslovénia. Esta rapariga em alguns dos seus tempos livres faz caminhadas, um pouco por todo o país e também pela Europa, sendo que um irmão do meu cunhado é organizador de algumas delas. O meu sobrinho vai encontrando o seu caminho à medida que o vai percorrendo pensando nas várias opções que se lhe apresentam.

    O número de estímulos que os jovens de hoje recebem pode ser muito maior do que no nosso tempo devido à maior disponibilidade de informação, vinda de vários meios. Acho que vivemos tempos de crise mas também tempos de esperança e excitação.

    Acho que não és propriamente bota de elástico mas sim que estás com algum receio pelo que está aí a aparecer (medo do desconhecido).

    As batidas de sms mais rápidas do que toques de música de mozart são só um pouco de poeira passageira que há de assentar.

    Desculpa o espaço roubado. Mas como o meu pais diz há duas coisas muito difíceis de terminar uma refeição e uma boa discussão (isto também é válido para o José e para o Luís).


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  5. 1/Mar/2008 | 13:50

    eles não sabem que o sonho comanda a vida…

    Bolas Mário aquela seca de ter que fazer contas de aritmética é uma chatice quantos dias é que pensas que vai demorar até que os F.d.P. vão demorar a descobrir como o contornar?

    Abraço


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  6. 1/Mar/2008 | 15:13

    Com a legitimidade dos meus quarenta e poucos, subscrevo totalmente.
    Mas a lista está incompleta. Assim de repente lembro-me que eram os homens a engatar as gajas. Os carros (mesmo em oitava mão e a cair de velhos, não eram comprados pelos papás.
    Mas há mais.
    Mas pronto, os tempos têm o seu próprio tempo.


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  7. Pedro
    1/Mar/2008 | 16:12

    Apesar dos meus 23 anos e ter nascido com um spectrum á frente, e com 4 anos já passar horas no spectrum a jogar e mais tarde a fazer coisas giras, e daí em diante não deixar os pc’s nem por um dia, nunca deixei de fazer actividades já aqui ditas por alguns.
    Hoje o tempo livre de um jovem é passado com jogos, navegar na internet e ir ao shopping comer uns hamburgers com coca-cola a acompanhar. A culpa é também dos pais, porque sentem os filhos mais seguros dentro de um espaço com 4 paredes, uma consola e um computador ligado à internet, principalmente aqueles que vivem nas grandes cidades sem espaços para lazer, com insegurança a cada esquina, cheias de armadilhas.

    Os tempos mudaram, por um lado para melhor, por outro para pior, mas até que ponto não se está a criar uma sociedade frágil? a sociedade de hoje está muito vulnerável, se hoje houver uma crise como as que já existiram o que irá acontecer? só espero não estar cá para ver.


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  8. 3/Mar/2008 | 20:39

    Eu, quando era pequeno, a unica coisa que pedia era se me deixavam brincar. Infelizmente, muito raramente se proporcionava uma ocasiao dessas.
    Nem todos podiam ter sapatos, roupas, comida e bolas.
    Bolas!
    A primeira vez que tive uma bola foi quando fiz 15 anos e paguei-a com o dinheiro do meu ordenado.
    Comida, era bacalhau com batatas e quando havia. Claro que hoje esta tudo diferente!
    Para melhor, sem qualquer sombra de duvida!
    @braco.
    PS: Ainda nao consegui ter acentuacao neste browser que e sem duvida o mais leve do mundo…


    A usar ELinks ELinks 0.11.3 em Linux Linux
  9. 6/Mar/2008 | 11:35

    Hoje em dia temos tudo.
    É bom ou mau? Claro, tanto é bom, mas também, há muito de negativo.. e a verdade é esta.

    Será que conseguimos passar sem o PC agora? Claro que não.
    Sem internet? Não.
    Sem telemóvel? Quase impossível.

    Aliás… é praticamente tudo impossível, nesta altura.


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atira-lhe uma pá de carvão

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