Quarta-feira, 27 de Junho de 2007
Férias com o meu filho :: Alcácer do Sal
Memórias, sobretudo memórias, da infância e da adolescência.
Tão distantes e tão presentes.
As férias em casa dos meus avós, grande para que coubesse a família toda.
A praia na Comporta com os meus pais, tios e primos, o mar quente de Sul com ondas revoltosas de Norte, o calor metálico do dia e asfixiante da noite, o Tabard nos bracitos e nas pernitas de calções feitas, os matraquilhos à noite na leitaria da Sra. Maria.
Os primeiros exploratórios beijos com muita saliva que provocavam erecções dolorosas, a cabo-verdiana lindíssma, os primeiros (e únicos) charros de haxe, as guitarradas, o deambular pela vila debitando parvoíces, os milhentos primos em quinquagésimo grau.
Os Natais, todos passados à volta da lareira na sala de cima, as prendas (a mais esperada sempre a do meu avô, vinha num envelope e era sempre generosa), os comes e bebes, o meu avô que com um copito a mais, desatava desafinadamente a cantar cantigas alentejanas.
E a memória desse mesmo avô, Zé Gamito, "O Velho Setenta", que nos deixou há treze anos levado por um filho de uma puta de um cancro.
Acho que o meu avô gostava mais dos seus seis netos do que da própria mulher e dos dois filhos.
Era um amor à sua maneira claro, de Alentejo escaldante tricotado, mas era um amor infinito.
Cancro cabrão, que me levaste o meu avô.
As minhas memórias ficam para sempre na minha cabeça e o meu avô Zé no meu coração.
Foi tudo isto que eu mostrei e contei hoje ao meu filho.
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Mário Gamito, 2004 - 2007
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