violência no futebol
31/Jan/2008 @ 08:38 Bola

Quando, tu me vires no Futebol
Estarei no campo, cabeça ao Sol
A avançar pé ante pé
Para uma bola que está
À espera de um pontapé
À espera de um penalty
Que eu vou transformar para ti
Eu vou, atirar para ganhar
Vou rematar e o golo que eu fizer
Ficará sempre na rede a libertar-nos da sede
Não me olhes só da Bancada Lateral
Desce dessa escada e vem deitar-te na grama
Vem falar comigo como gente que se ama
E até não se poder mais, vamos jogar…

Sérgio Godinho in Espectáculo

A propósito do adepto esfaqueado no jogo de futebol V. Guimarães – Benfica.
Quando eu era criança, o meu pai levava-me ao futebol, ao Beira-Mar, no velhinho Estádio Mário Duarte.
Nós não iamos a todos os jogos, só aos melhores: Sporting, Benfica, Porto, Boavista, Setúbal, a Académica, claro e mais uns quantos.
Aquilo era um ritual, o meu pai ia com três (3) horas de antecedência para o Estádio, ficávamos na Bancada Central (o melhor sítio e único coberto), sempre no enfiamento da linha do meio-campo.

Era uma festa para mim, o meu pai comprava tremoços e pevides para irmos mastigando enquanto as três horas não passavam, ouvindo os pobres dos cães do Canil Municipal – que ficava precisamente debaixo da Bancada Central – implorarem por Misericórdia.
Entretanto, ouvíamos pelos “auto-falantes” fanhosos que a sapataria xpto, oferecia um par de sapatos ao primeiro jogador do Beira-Mar que marcasse um golo.
E toda a gente aplaudia. Velhos tempos.

Havia uma coisa que eu nunca percebia: o meu pai é Sportinguista, mas sempre que o Sporting embuchava um do Beira-Mar, ele levantava-se e aplaudia e quando marcava o Sporting, não fazia nada.
Eu, na minha inocência de criança, achava aquilo muito estranho, mas nunca lhe perguntei o porquê daquele comportamento.

Vi o Veloso vestir de amarelo e preto antes de ir para o Benfica, o Sousa, também do Beira-Mar, mandar aqueles petardos que deitavam abaixo os fotógrafos ao lado da baliza, quais bonecos de feira e outros, o Jaime Pacheco do Boavista, o José Henriques do Benfica entrar com a bola pela baliza dentro com um petardo disparado por um gajo qualquer, enfim, memórias de criança. Ah, também vi o Eusébio no Beira-Mar, o seu primeiro jogo foi dia de festa no Estádio.
Saíu ao intervalo.

Quando tocava o Porto, Setúbal ou Leixões, era porrada na certa nas bancadas atrás da baliza do Beira-Beira (para os amigos), tão certo como o Sol pôr-se no final do dia.
Ele eram peixeiras a dar porrada com os capacetes das motorizadas, enfim, eu sei lá, um festim.
Até que um dia, numa dessas cenas atrás da baliza, um políca mais desvairado ou com menos sangue-frio, sacou da arma apontando para todo o lado, abrindo um clarão à sua volta.
O meu pai pegou-me na mão, viemos embora e desde esse dia até hoje, nunca mais nenhum de nós pôs os pés num jogo de futebol.

-MG
rss 4 pás de carvão
  1. 31/Jan/2008 | 10:01

    Bom, muito bom post.


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  2. 31/Jan/2008 | 12:04

    Excelente Post!

    Sem dúvida eram bons velhos tempos em que o fiscal de linha do lado da bancada dos sócios ouvia das boas sempre que marcava uma fora de jogo! Quando a velhota da praça do peixe batia nas «chapas» a puxar pelo beira-mar… enfim… boas memórias.


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  3. Manifest0
    31/Jan/2008 | 15:51

    Porrada de criar bicho…. Os velhos tempos! :D

    Dantes o pessoal ia aos jogos para os ver e se houvesse porrada, não era nada de mais.

    Agora o pessoal vai para andar à porrada (é por isso é que leva armas brancas) e se tiver sorte ainda vê o jogo.

    Era bom que o Beira-beira subisse, pois a zona centro merece ter os 4 clubes na 1a liga.

    e já agora: Força Briosa!


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  4. José Ricardo
    31/Jan/2008 | 16:39

    Sou leitor assíduo do seu blog, e confesso que este tópico me trouxe belas recordações.

    Sou Vitoriano e Setubalense de gema, e os domingos de jogos em casa no horário da tarde, era tradição a deslocação ao Bonfim.
    Também nós ficávamos na bancada coberta, e optávamos pelos amendoins e pelos tremoços.
    Lembro-me perfeitamente de ser pequeno, e sempre que era golo deixar de ver o campo, com o pular dos “colegas” de bancada. Ficar estupefacto com os adjectivos aplicados aos árbitros e fiscais de linha…

    Quanto ao resto, a violência é vergonhoso para o desporto e também a mim me faz pensar se valerá a pena sair de casa para um tempo de diversão e ainda se vir de lá pior do que se foi.


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atira-lhe uma pá de carvão

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