havemos de nos encontrar de novo, avó
21/Jan/2009 @ 08:07 Eu

Por estes dias, completam-se cinco anos sobre um outro: o do falecimento da minha avó materna. A minha avó foi praticamente quem me criou ao nível do afecto, carinho e compreensão. E sempre que eu estive estive em baixo, também ela sempre lá esteve para mim. Enviuvou muito cedo na vida (o meu avô materno morreu pouco antes de eu ter nascido) e desde esse dia veio morar para a casa dos meus pais. Há quinze anos casei-me e deixei a paterna casa. O seu amor por mim era tão verdadeiro que quando soube que me ia casar e deixar de conviver com ela no dia-a-dia ficou felicíssima. Provavelmente porque acima de tudo, a sua felicidade era ver-me feliz. E adoptou a minha futura mulher como neta e ela deixou-se adoptar. Chamava-lhe carinhosamente de avózita. E era raro o dia em que não passasse por lá só para a ver e falar com ela um pouco.
Era uma daquelas pessoas que nunca pensamos irem morrer um dia, como todas as outras. Mas esse dia chegou, avó.
Quando recebi uma chamada da minha mãe no meu telemóvel cerca das 8 da noite, dizendo-me que tinhas tido um ataque qualquer no parque de estacionamento do Jumbo de Aveiro e que estavas no Hospital. Meti-me no carro imediatamente e conduzi para lá como um rapazito de 18 anos acabado de tirar a carta. Lá chegado, a minha mãe disse-me que ainda não sabia muitos detalhes, mas que era muito grave e provavelmente não passarias dessa noite. Saí do Hospital – era um dia bastante chuvoso  – caminhei para o carro e sentei-me no capot com a chuva a ensopar-me e como se isso tivesse qualquer interesse nesse momento. E chorando com a cara em lágrimas entremeadas com a chuva, pedi a Deus apenas que me deixasse apertar-lhe a minha mão contra a dela uma última vez e despedir-me enquanto ainda estivesse viva, mesmo que não me pudesse ouvir. Foi só o que Lhe pedi, mas os Seus desígnios são insondáves: morreu uma hora depois e não tive o meu pedido concedido.
Ainda hoje me pergunto: “Porquê avó ? Porque partiste sem te teres despedido de mim ?“. Como se fosse algo racional e ela tivesse tido alguma culpa disso.
Guardo na memória todos os bons e muitos anos que passámos e as coisas que partilhámos – muitas, em segredo. E não passa um único dia sem que me lembre dela. E de recordar de quanto me amava e da possibilidade de não lhe ter conseguido dar tanto do mesmo em troca. Lembro-me de me abrir a porta e me cumprimentar sempre do mesmo modo: “Então, neto ?“, ao que respondia também sempre: “Então, avó ?“. E de seguida, trocávamos um beijo na face. Lembro-me de às vezes me dar 5 euros “para um café”, tirados da sua magra pensão. E embora eu não precisasse deles, sempre os aceitei porque sabia que era mais um dos seus inúmeros actos de amor para comigo.
Espero um dia que nos reencontremos num qualquer lugar e tempo melhor do que este, avó.

-MG
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