farto do centralismo lisboeta
30/Abr/2008 @ 06:20 Sociedade

Gosto muito de Lisboa. Adoro passear no Chiado naqueles Sábados com uma luz que só Lisboa tem. Adoro o rio. Qual pacóvio provinciano que sou, adoro passar na ponte 25 de Abril, só para desfrutar da beleza da vista. As pessoas são muito simpáticas e prestáveis.

Mas estou cheio do centralismo dessa cidade que subjuga o resto do país.
Quando foi o referendo da regionalização, votei não com toda a convicção. Porque Portugal é um Estado-Nação; porque é um país pequeno demais para ser retalhado; por causa dos velhos e novos caciques mais respectivos poderes acrescidos, tachos, despesas e todos esses argumentos.

Mudei de ideias: venha novo referendo que eu voto sim de caras. Estou farto de ter que ir trabalhar para Lisboa se quiser ganhar aquilo que as minhas qualificações e experiência merecem, que as decisões que afectam o país todo provenham do Terreiro do Paço, que se enterrem biliões em novas estradas, túneis e sei lá que mais e quando lá vou, a merda é sempre a mesma, se não pior. Estou farto de todas as exposições, espectáculos e demais ofertas culturais serem um exclusivo de Lisboa. Estou farto de os políticos, assim que assentam arraiais em Lisboa, se esquecerem de onde vieram (já alguém ouviu algum político do Norte com sotaque quando está em Lisboa ?). Da fantochada das listas eleitorais para as legislativas, da qual o exemplo mais gritante é precisamente o Paulo Portas por Aveiro, mas não é o único.
Cheguei à conclusão de que não somos um Estado-Nação. Somos um Estado-Cidade.

Venham os círculos uninominais, já.
Quero ter um dia por mês que seja, para ir pedir contas do trabalho que os “meus” deputados estão a fazer na Assembleia da república.
Quero que enquanto se constroem e projectam em biliões de euros mais pontes para Lisboa, a da minha terra não seja remendada in-extremis.
Quero que os espectáculos subsidiados pelo Estado sejam obrigados a fazer uma digressão pelo país.
Quero que seja uma qualquer Assembleia a decidir as prioridades para a minha região e não um gajo qualquer que está em Lisboa e que nunca cá veio ver as modas nem conhecer as realidades.

Os Portuenses mais antigos, dizem que o Salazar mandou construir a Estrada da Circunvalação para que o Porto não pudesse cresçer mais e ameaçar Lisboa e já começo a acreditar que se calhar, têm razão.

Vem este artigo a propósito de uma razão mais do que comezinha: o filme Blade Runner ter voltado ao grande ecrã na sua versão final e a província, mais uma vez, ter ficado a ver navios [1]. “Pá, em Lisboa ainda enchemos uma sala ou duas, na província vai ser só prejuízo, que se lixem”. Vão-se quilhar, conhos lisboetas, tenho muita pena de não o ter podido rever no cinema, mas revi-o em DVD no meu plasma.
A razão é realmente comezinha, mas fez-me escrever isto que tinha engatilhado há muito tempo.

[1]: Corrigam-me se estiver enganado, mas se sim, o artigo vale na mesma. Não é por causa do filme.

-MG
rss 9 pás de carvão
  1. Alex aka netshark
    30/Abr/2008 | 08:52

    Caro Mario,

    Já percebi isso ha varios anos com a concentração e deslocação de empresas para a capital.
    Nos ultimos tempos este problema tomou outras proporções. Nega-se a sua existencia, gasta-se os impostos na regiao da capital, como se nao houvesse mais pais e por ai fora…
    Ha mesmo empresas da nossa area, na capital, que têm o desplante de “oferecerem” estagios não remunerados a nivel nacional, para trabalho na capital.
    Na minha opinião Lisboa é de facto a capital. A capital nacional da mesquenhice tuga, da falta de visão, egoismo e surrealismo portugueses.
    Mas quem é que estao a enganar senao eles proprios?
    Qualquer bom profissional em TIs para se deslocar, mais vale ir para o estrangeiro, onde as ofertas sao bem melhores, do que mudarem para a capital por tao pobre recompensa.
    É tão certo o resto do Pais estar a perder o seu capital intelectual para Lisboa, como Lisboa estar a perde-lo para o resto da Europa, Estados Unidos e Paises emergentes.
    Estamos num excelente caminho para nos tornarmos uma versão microscopica do Brasil e similares, nos seus piores defeitos politico/economico/sociais. Daqui a alguns anos temos a minoria elitista gorda e rica, e os outros 90% dos tugas na completa pobreza. Há muito que a classe media será uma especie extinta.


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  2. Isi
    30/Abr/2008 | 09:18

    FantasLisboa?


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  3. 30/Abr/2008 | 10:01

    [1] - É mesmo verdade… nem me fales nisso. Ia todo contente para ver o filme, vou ao site ver os horarios e… “Onde está o raio do filme!?!”
    É só para LX… pffff…


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  4. Bruno
    30/Abr/2008 | 10:58

    Pela primeira vez comento para concordar contigo.

    Sou natural do Porto mas moro em Lisboa há 6 anos por motivos profissionais e realmente tens muita razão naquilo que dizes.


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  5. 30/Abr/2008 | 16:43

    Boa tarde,

    Dada a temática abordada e a qualidade do “post”, tomei a liberdade de o publicar, com o respectivo link, no
    .
    Regionalização

    http://regioes.blogspot.com
    .

    Cumprimentos


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  6. 1/Mai/2008 | 17:52

    Só há uma cidade no país que beneficiaria com a não regionalização: Lisboa.


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  7. 2/Mai/2008 | 00:25

    Jizz, há coisas que não compreendo.

    1. Relativamente a politica, bom, abstenho os meus comentários pois não acredito nessa classe.

    2. Relativamente a concentração das empresas na região de Lisboa tenho a dizer que a acho natural. Um empresa multinacional tenderá a centrar-se junto do ponto que abrange o maior numero possivel de clientes! Não percebo porque pensam que não deveria ser assim. Ainda mais num pais em que as pessoas tem uma enorme dificuldade de mobilidade (nunca vi pais em que mexer o c* fosse tão dificil).

    3. Em vez de se queixarem, pensem nas coisas boas que quem não está em Lisboa tem: menos transito, menos confusão, menos dinheiro gasto em despesas diarias, etc. Mas caramba, nós os que vivemos em Lisboa, também temos o direito a alguma coisa não? A cultura é um desses apectos. E não me lixem que também não há tudo em Lisboa… Foi com pesar que vi o concerto dos The Kills ser no Porto (casa da Musica).

    Concluindo, acabem lá com esse sentimento de inferioridade e admitam a vossa condição e escolha. É tudo uma questão de opção.

    PS: Não nasci em Lisboa. Apenas optei.


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  8. PMS
    4/Mai/2008 | 03:45

    “Um empresa multinacional tenderá a centrar-se junto do ponto que abrange o maior numero possivel de clientes!”

    Pois, só que esse local não é Lisboa. É algures entre Aveiro e Braga. Daí que o argumento não pega. (todo o geografo sabe que a concentração populacional é muito superior no norte e centro do pais do que abaixo do Mondego. Aconselho consulta da população por concelho ou NUTs 3 do INE, se houver dúvidas. Ou então basta pensar nos “hinterland” do aeroporto do Porto - 6 milhões de habitantes a 2h de distância - face ao “hinterland” da Portela - 5 milhões de habitantes).

    Mas aconselho-o a ler uns jornais antigos… É mais que sabido que no Governo de Cavaco Silva as multinacionais só recebiam apoios (e licenciamento) na instalação se fossem para Lisboa. Infelizmente, as multinacionais instalam-se mais facilmente onde o poder político mandar.

    “Em vez de se queixarem, pensem nas coisas boas que quem não está em Lisboa tem: menos transito, menos confusão, menos dinheiro gasto em despesas diarias.”
    Meu caro, vejo-te que te referes aos efeitos negativos do centralismo para Lisboa (afinal, o centralismo apenas beneficia umas pequenas elites à roda do poder, enquanto lixa ainda mais o comum dos lisboetas). Junta-te à luta contra o centralismo : )

    “Concluindo, acabem lá com esse sentimento de inferioridade e admitam a vossa condição e escolha. É tudo uma questão de opção.”
    Que eu saiba não ando a ter grande opção quanto a ver o dinheiro dos meus impostos enterrados em lisboa. Ter opção de escolher em que é que o dinheiro dos MEUS impostos é aplicado é o que eu queria. Agora, não admito nem aceito passivamente a minha situação de EXPLORADO e não me venham falar de sentimentos de inferioridade. Vão gastar 1.500 milhõiess de euros numa ponte desnecessária e depois dizem-me para não me queixar que é complexo de inferioridade. Só pode estar a gozar, não. Falar com a barriga cheia é fácil.

    Suponho que o desvio governamental da AutoEuropa do Minho para a península de Setúbal também seja culpa nossa. É assim. É comer e calar.


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  9. Philipp
    5/Mai/2008 | 15:08

    Caro PMS,

    Só nos darão a Regionalização quando o resto do país for só “matagal e silvas boas para a criação de javalis”. Aí sim, Lisboa, na altura uma Megalopolis, vai ter direito aos impostos de talvez 90% da população portuguesa residente nas sua região, visto não terem tido outra escolha. Aí vai valer a pena! Aí já é tarde demais!

    Ao poder central só peço uma coisa: Deixem-nos ser nós a tomar as nossas decisões com o dinheiro que nós produzimos.. mesmo que seja pouco ou muito.

    Algumas observações:

    - então o TGV Porto-Vigo não tinha já financiamento garantido (pela La Caja ou a Caja Galicia)? E não estava já quase tudo apontado a acordado? Lembro-me que a ligação Lisboa Madrid estava, por sua vez, bloqueado com desacordos entre Lisboa e Madrid nomeadamente no ponto onde a linha cruzaria a fronteira. Lembram-se? Ora: porque é que agora vemos nas notícias o Arquitecto Santiago Calatrava a visitar a sua estação do oriente para remodelações para a chegada do TGV depois a ponte do Barreiro que, sem cedências, já está a pensar no TGV? Parece que a ligação está a “andar de mota”. E a do Porto-Vigo? Ligação vital na Euroregião galega? notícias só as que será feita depois da ligação Lisboa Madrid. Creio que se tivessemos Regionalização o TGV para Vigo já estaria em marcha. Quem é que bloqueou?

    - há poucoss dias li sobre uma ligação de Cascais a outra localidade da região de Lisboa (não me recordo) em que no seguimento da notícia se falava já na ligação Cascais-Madrid (sim, não me enganei!) e que o governo estaria empenhado em apoiar este projecto já com financiamento garantido. E penso no que Rui Rio, na qualidade de presidente da junta metropolitana do Porto, teve que ceder e pedinchar para conseguirmos (ainda não se sabe quando) a ligação do Metro a Gondomar por um preço misero comparado com o dinheiro enterrado numa só estação no terreiro do Paço em Lisboa. Primeiro vem a ligação Cascais Madrid, depois que venha, se vier, a ligação miserável de Gondomar à rede Metro? Para os saloios: Gondomar é um concelho adjacente à cidade do Porto e vai no seguimento da massa urbana do Porto.

    como dizia alguém: “É que o que é construído em Lisboa é de interesse nacional e o que é construído no Porto ou noutro local, aí é já interesse local.”

    Quero liberdade de decisão. Não quero “bloqueios” do Poder central.


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atira-lhe uma pá de carvão

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