o caso dos valores dos ajustes directos
16/Jan/2009 @ 11:59 Sociedade

Depois da euforia inicial que chocou toda a gente (eu incluído), reflecti sobre a possibilidade de haver erro(s) informático(s) nos valores das adjudicações directas no site do Governo. Hoje o caso chegou aos jornais. Pelo menos ao Público – com honras de primeira página e abrir a secção nacional – e ao Correio da Manhã. Depressa chegará às televisões, adivinho eu. Não quero dizer que *eventualmente* não tenha havido marosca nalguns casos, mas não com aquela dimensão ou sequer remotamente aproximada. Só podia ter sido uma grande barraca. Uma fotocopiadora de 3000 euros não podia pura e simplesmente ter sido comprada por 6,5 milhões. Portugal apesar de tudo, ainda não é o Burkina Faso. Sobre este caso, escreve o Correio da manhã:

Contactado pelo CM, o assessor da CMB, Paulo Bernardino explica que a autarquia pagou na realidade 6,5 mil euros pelo equipamento. “Houve um erro a nível administrativo, os funcionários por lapso trocaram um ponto por uma vírgula, o que levou a o valor ficasse indicado como 6,5 milhões”

Ainda sobre os 652300 euros de vinho constantes do site governamental, diz o artigo no Público:

A Câmara de Loures, que desde o início de Novembro está a protestar, sem sucesso, (…) contra muitos deles, designadamente os dois zeros que foram acrescentados aos 6523 euros que pagou pelo vinho.”

Se lerem a entrevista que deu ao Bitaites, já então o Rui Seabra, Vice-Presidente da ANSOL – entidade que criou o http://transparencia-pt.org –  não se referiu a aldrabices, mas sim a falhas informáticas de palmatória. Na entrevista ao Público (ver caixa na página), dizendo o mesmo, foi mais formal na escolha das palavras, como é óbvio:

“Percebemos que não tinha capacidade de escalar para as necessidades de transparência exigíveis a uma democracia moderna.”
(…)
Seabra classifica o site oficial, chamado Base, como “uma iniciativa governamental exemplar de um conceito louvável” que acabou por ser “atraiçoada por uma implementação de má qualidade”.

Enfim, mais um caso de uma coisa feita com os pés. De tal modo que até os valores das adjudicações constantes no site governamental, ultrapassam largamente os máximos definidos por Lei. Está online desde 2006 e ainda têm a lata inoxidável de dizer que “ainda está em desenvolvimento” e que o motor de pesquisa deverá estar a funcionar “dentro de dez dias”. Parece que acordaram de repente e contrataram um batalhão de programadores a trabalhar em regime 24/7. Atenção, que como sempre disseram os nossos políticos e jornalistas, os portugueses são inteligentes na hora do voto. E frases como estas podem ser consideradas por muitos como um insulto à sua inteligência.
Por último, um grande tirar de chapéu à ANSOL que sem dúvida prestou um enorme serviço público ao país. Mas que com certeza (e com toda legitimidade) teve a sua própria agenda. Conseguiram com isto tornar-se conhecidos por toda a gente em Portugal e muitas deles vão querer saber quem são e o que defendem em relação ao software e relativa qualidade e gastos, nomeadamente no que toca ao Estado. Está tudo à distância de meia-dúzia de cliques. E isto pode ser que comece a mudar mentalidades, primeiro nos eleitores e depois nos governantes. A “prova” disso, é o portal dizer que custou 18 euros e umas horas a fazer e neste momento estar praticamente inacessível – na edição online do Público tem o link no texto.
Gostei particularmente desta frase do Rui Seabra ao mesmo jornal:

A ANSOL, acrescenta, está disposta a ajudar a resolver os problemas do site oficial.

Para terminar, não gostaria de deixar de vos convidar a ler e comparar os comentários dos leitores no Público online e no Correio da Manhã. As conclusões da comparação deixo para vós, mas se calhar – e voltando atrás – há eleitores que não percebem o que verdadeiramente está em causa. E que, digo eu, devem ser em muito maior número do que aqueles que o percebem. Infelizmente :(

-MG
rss 1 pá de carvão
  1. Carlos Afonso
    16/Jan/2009 | 16:44

    Os comentários do CM têm muito que se lhe diga 120 caracteres. Alguém consegue escrever com um mínimo de detalhe de forma série com 120 caracteres para escrever. A generalidade dos comentários são alarvidades, mas os que não sejam quase parecem pelo espaço reduzido disponibilizado.
    Público lembrou-me que se quero comentar a notícia poderia fazer uma entrada no meu bloque e depois ligar para lá.
    O trabalho da ANSOL foi barato, talvez demais.


    A usar Mozilla Firefox Mozilla Firefox 3.0.5 em Windows Windows XP
atira-lhe uma pá de carvão

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