o posat-1
17/Jan/2009 @ 10:50 Sociedade

Era o dia 26 de Setembro de 1993 e eu estava pela segunda vez acordado de madrugada em frente à televisão para assistir ao lançamento do primeiro satélite português. O lançamento estava marcado para 2 ou 3 dias antes, mas por causa das condições meteorológicas foi decidido ser adiado justamente poucos minutos antes do lançamento. Nesse dia fiquei acordado em vão. Era de madrugada, porque foi lançado – como tantos outros – pelo francês Centro Espacial de Kourou na Guiana Francesa. Um pedacinho de terra que os franciús têm a uns bons fusos horários a menos em relação a nós.
Apregoado como sendo a entrada de Portugal na tecnologia aero-espacial, na verdade o PoSAT-1 é um micro-satélite mixuruco que foi comprado e montado em Inglaterra com a participação de portugueses. Acho que a única transferência de tecnologia a nosso favor que possa ter havido, pouco mais deve ter sido do que a de aprender aonde apertar que parafusos. Paralelipipédico com 35 cm de lado e profundidade, 58 de comprimento, 50 kg de peso e velocidade de 7,3 km/s, faz 14 voltas à Terra por dia. Em 2006 deixou de comunicar com o Centro de Satélites de Sintra.
Dez anos depois do seu lançamento, Portugal deixou de o usar e assinou um contrato com uma empresa norte-americana para o fazer. Verdade seja dita, pouco mais fazia do que tirar imagens da Terra e telecomunicações. Com a agravante de o acesso ao satélite só poder ser feito a cada 6 horas e apenas durante alguns minutos que era quando passava por cima de nós e enquanto não desaparecia do horizonte da antena da Estação. As Forças Armadas chegaram a utilizá-lo nas missões da ONU na Bósnia, mas a que militares interessava transmitir e receber informações do seu país de origem com um delay que podia chegar às 6 horas ? Também a adesão de Portugal em 1999 à Agência Espacial Europeia lançou a desmotivação entre os “carolas” do PoSAT-1 que eram na verdade quem tirava algum proveito dele, mais por gosto e amor do que porque Portugal tivesse ainda algum interesse no satélite. Em 10 de Outubro de 2003, em entrevista à TSF online,  Fernando Costa, o homem que tinha quase tinha o poder de se fosse preciso tomar decisões em relação ao satélite afirmou: “As actividades são mais reduzidas agora porque não há exploração“. O engenheiro da Marconi, a empresa que ficou responsável pelo controlo do aparelho na altura, lembrou que no início houve um bom aproveitamento do aparelho, mas reconheceu que, nos últimos anos, pareceu ter diminuindo a vontade nacional de tirar partido dele. Para bom entendedor, meia palavra basta.
A morte física do PoSAT-1 está prevista para 2043. Nesse ano, há-de voltar a ser notícia nos Telejornais. Até lá, vai andar à deriva até que se desintegre no curto momento da entrada na atmosfera. Enquanto isso não acontece, no site Live Real Time Satellite Trackinkg, podemos acompanhar em tempo real a posição e deslocação do PoSAT-1 graças às maravilhas que o Google Maps permite.
Agora coloco a pergunta de 1 milhão de dólares: porque é que Portugal em vez de ter gasto uma pipa de massa num “ferro” praticamente inútil, não investiu num satélite geoestacionário de telecomunicações que nos permitisse comunicar como deve ser com os países africanos de língua portuguesa ? Isso sim, teria sido dinheiro bem empregue e mais importante do que isso, uma opção estratégica para o nosso país.

-MG
rss 2 pás de carvão
  1. 17/Jan/2009 | 18:30

    Bom post! Desconhecia estes factos :o)

    Hugz,
    Luís


    A usar Mozilla Firefox Mozilla Firefox 3.0.5 em Windows Windows XP
  2. Carlos Afonso
    18/Jan/2009 | 19:01

    Opção estratégica, (ou opções de longo prazo) deves estar a falar de outro planeta. No planeta Portugal isso é algo que só se faz muito de onde em onde…


    A usar Chrome Chrome 1.0.154.43 em Windows Windows XP
atira-lhe uma pá de carvão

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