:Apeadeiro

Ao fim de 39 anos, sou obrigado a dizer aquilo que nunca pensei: estou farto de ser Sportinguista.
Mas porque é que o meu pai me terá feito adepto deste clube ? Será porque quando tinha 3/4 anos e vivíamos em Lisboa, ele me levava religiosamente a todos os jogos no velhinho Estádio de Alvalade (e eu a perguntar quando é que entravam os touros, porque também íamos à tourada e aquilo parecia-me tudo a mesma coisa) ?

Ser Sportinguista é como ser um apreciador de bom cinema e ser obrigado a ver 24 horas por dia filmes série B. Ou gostar de ler bons livros e na estante ter apenas o “Eu, Carolina”.

O Sporting parece um filme do David Lynch onde tudo é nebuloso e só acontecem coisas estranhas. É o clube do quase, das vitórias morais ou, nos antípodas, da desgraça total como está a acontecer este ano. Quantas noites europeias em que o Sporting foi eliminado nos últimos 5 minutos, uma Taça UEFA perdida em casa contra uns gregos de nomes indecifráveis, campeonatos perdidos ao ponto, eu sei lá. Lembro-me até de andar na Faculdade aí em 1992 ou 1993 e nessa altura o Sporting ter ganho os 13 primeiros jogos do campeonato. Fomos campeões nesse ano ? Queríamos todos - família Sportinguista, como agora se diz em futebol - mas não fomos.

Claro que como todos os Sportinguistas, eu digo que sê-lo é ser diferente, o que infelizmente para muitos de nós já vai sendo argumento suficiente para continuar a amar este clube. Mas ao fim de 39 anos - e embora o Sporting tenha sido campeão mais vezes - a verdade é que só me lembro dos dois últimos campeonatos que ganhámos. Curiosamente, foram ganhos à custa de dois goleadores anafados: o primeiro deles, o Acosta, um Argentino entradote com ar de primata entroncado que não sabia jogar à bola, mas que para a meter lá dentro não havia pai para ele. O segundo, com outro anafado, brasileiro de seu nome Jardel.
Será que o truque para sermos campeões é termos um avançado rechonchudinho ? É que se é assim, mande-se já embora o actual levezinho.
É certo que durante os famosos 19 anos de jejum, o Sporting foi espoliado em três ou quatro campeonatos, mas isso é lenha para outra fogueira.

Somos quatro gerações de Sportinguistas: o meu avô paterno, o meu pai, eu e o meu filho e estas coisas contam. O meu avô, aquando da construção do Estádio de Alvalade e ouvindo o apelo do Sporting aos seus adeptos para contribuírem com materiais de construções, encheu-se de forças e foi de Alcácer do Sal a Lisboa levar um saco de cimento às costas. Imagine-se a aventura, sem transporte próprio, sem ponte, sem nada. Só um saco de cimento e o amor ao clube.

Há dias li num jornal que o Sporting, contando com todas as modalidades, é o 2º clube do mundo em número de títulos logo a seguir ao Barcelona. Mas eu quero lá saber do ping-pong ou do bilhar às três tabelas, pá ? Eu quero é que o Sporting seja campeão da bola.
Eu devia ser adepto da Académica ou do Belenenses, pelo menos já sabia que nunca podia contar com vitórias em campeonatos (excepto os da 2ª Divisão) e competições europeias.

Benfiquista ou Portista é que não!