É meu crer que os códigos deontológicos em profissões como médicos, jornalistas e outras são necessários, embora aqueles que não tenham escrúpulos os mandem às urtigas sem peso na consciência e à noite pousem a cabeça na almofada e rapidamente caiam nos braços de Morfeu.
Contudo, é bom que existam guidelines em certas actividades.
Uma profissão que não tem código deontológico e penso que devia ter ter, é a de administrador de sistemas.
Nós temos acesso aos emails das pessoas, aos seus ficheiros, por onde navegam na web, enfim, tudo.
Eu guio-me pelo meu próprio código deontológico que vem do meu modo de estar na vida: posso ter muitos defeitos, mas não sou cusco, curioso nem espalha-brasas em relação à vida alheia.
Nunca acedi a emails de ninguém (fazer isso está à distância de abrir os ficheiros das mensagens com o vi), nem a ficheiros, nada. Já geri um servidor de email com cerca de 250 domínios e 10000 contas que tinha várias câmaras municipais, incluindo os endereços dos respectivos Presidentes e Vereadores, Associações Industriais, Escolas, e nunca li um email que não fosse meu.
Também já geri vários servidores de ficheiros Samba e nunca vi um ficheiro que não fosse meu.
Contudo, passo a relatar um caso que sucedeu comigo – e como já lá vão muitos anos e não vou citar nomes – penso poder fazê-lo.
Trabalhei num Departamento da Universidade de Aveiro (o equivalente às Faculdades nas Universidades clássicas) e entre outros, geria um servidor de ficheiros Samba com cerca de 100 utilizadores.
No servidor, cada utilizador tinha a sua pasta privada (home share em “Sambês”), a que só ele podia aceder com a sua password.
Havia uma pasta só para Professores e alunos de Pós-Graduação, outra só para funcionários e uma Comum à qual todos tinham acesso.
Um dia em que o servidor já estava a rebentar pelas goelas em termos de espaço em disco, fui falar com o meu orientador, que por acaso era Presidente do Conselho Directivo do Departamento, para ver o que se havia de fazer. Ele disse-me para procurar tudo o que fosse mp3 e vídeos, apagar e ver como ficava no fim para depois se decidir se se comprava mais um disco ou não.
É então nessa tarefa que dentro da pasta comum a todos, encontro uma outra com o nome de um utilizador e um vídeo porno lá dentro. Ou seja, como era a pasta que todos os utilizadores podiam ter acesso livremente e a pessoa em questão, obviamente por ignorância, criou lá uma com o nome dela e lá colocou o tal vídeo, fiquei sem saber o que fazer.
Num primeiro momento, pensei em ir falar com a pessoa em questão, mas era uma mulher e nem sequer era do meu círculo de amigos e conhecidos, descartei a possibilidade. Contudo, pensei que algo devia ser feito, para que a coisa não se tornasse do conhecimento geral. Apagar por minha conta estava fora de causa.
Restou-me ir expôr o assunto ao meu orientador, que não só o era, como também era um amigo.
Depois de muito pensar, disse que o melhor era eu apagar, coisa que fiz e o assunto ficou arrumado aí.
É nestas alturas que um código deontológico para um administrador dava jeito.