a geração da qualidade de som rasco
20/Jan/2009 @ 09:56 Música

Se há coisa que eu sou é um melómano sem cura, mas gosto de pensar que é uma Good Thing (TM). Há muitas outras pessoas como eu e das que não o são, quase todas gostam de música. Vida sem música não é vida. E para aqueles poucos que não gostam de música, não sabem o que estão a perder.
Apesar de não ser nenhum velho, ainda sou do tempo em que – independentemente dos seus gostos musicais – as pessoas procuravam ter a melhor qualidade sonora que o seu dinheiro lhes permitisse. Mas o que eu vejo na generalidade dos jovens de hoje é que só ouvem MP3 com auscultadores através dos respectivos leitores (leia-se leitores dedicados, telemóveis, etc.). Acontece também que por muito caro e bom que seja um leitor de MP3, traz sempre uns auscultadores cuja qualidade está ao nível de qualquer um que se compre na loja do chinês da esquina. E como delinquentes musicais que são, pelo menos no que à qualidade de som diz respeito, sonham que se gastarem centenas de euros num leitor de MP3 é porque (também) deve ter um som excelente quando na verdade só sabem o que é péssimo som. E assim, somando isto à boa merda que é o formato MP3, acabam por nunca saber o que é bom som. E pior do que isso, tirar prazer dele.
Há poucos dias, um colega de trabalho (aí com uns 22 anos) quis dar-me a ouvir uma música que tinha no seu iPod. Detesto enfiar auscultadores de orelhas alheias nas minhas, mas enfim… detesto ainda mais dizer às pessoas que não quero porque não sei se costumam limpar as orelhas e se têm micróbios. Lá ouvi a música. Bem, os auscultadores (que eu depois confirmei com ele serem os que vinham com o iPod) era tão, mas tão maus que nem tenho palavras para os descrever. Mas sempre posso dizer que graves nem se ouviam. Isolamento de som exterior ? Pois sim. Ainda lhe pedi para ouvir mais duas ou três músicas de outras bandas que ele gostasse e eu não conhecesse, não fosse dar-se o caso de o primeiro MP3 que me deu a ouvir ser particularmente mau. Foi só para confirmar e ficou… confirmado. Não conto esta história do iPod por querer de algum modo estar subrepcticiamente a malhar na Apple, nada disso. Nisto, as marcas são todas iguais. Produzem excelentes e caríssimos leitores, mas para que fiquem mais baratos são incapazes de  incluir na caixinha na qual são vendidos uns auscultadores minimamente decentes. O que para marcas que vendem milhões desses aparelhos, não custaria mais do que uns 10 euros. E já estou a ser um mãos largas. Portanto, os jovens não são os “únicos” culpados por só ouvirem som de péssima qualidade. Podiam era ser mais bem informados, mas isso já seria pedir muito.
Quanto às outras pessoas como eu, quando compram um leitor por exemplo abaixo dos 100 euros (recuso-me a dar mais do que isso por um e tem que ler o formato OGG), a seguir têm que gastar quase outro tanto se quiserem usufruir de som de qualidade na gama média-alta.
Acho que vou ali a uma loja que vende vinis novos, comprar um de que goste e enfiá-lo no prato do gira-discos da minha aparelhagem sonora. É que só de escrever este artigo, já fico de orelhas arranhadas.
PS. O formato MP3 ser uma valente merda e porque mistério é que 99.9% das pessoas o utiliza, fica para outro artigo.

-MG
rss 14 pás de carvão
  1. 20/Jan/2009 | 11:37

    É uma verdade sim senhor. Hoje em dia parece dar-se mais valor à quantidade (ter “milhões de músicas” só “porque sim”) do que à qualidade.

    Duvido que a maior parte da “chavalada” saiba sequer o que está a perder - está habituada a ouvir assim, e deve pensar que é assim que é.

    Depois temos os casos das músicas já serem “mixadas” e equalizadas a contar com estas coisas, e que quando se ouvem numa aparelhagem de jeito (colunas ou headphones)… soam completamente “descalibradas”.

    … valem-nos as excepções que ainda vão surgindo.
    (por alguma coisa tenho sempre meia dúzia de CDs da Telarc sempre à mão, para demonstrar quando alguém lá vai a casa. :)

    Quanto ao MP3 (o formato em si) não tenho nada contra ele - sendo um “lossy” codec, vai sempre haver perda de informação - no entanto, num MP3 bem codificado a 320Kbps, a diferença será pouco perceptível, e “obriga” a ter uma boa aparelhagem sonora para se distinguir as diferenças.

    Claro que, a maioria dos MP3 que andam por aí, de 96/128kbps… isso é outro assunto.

    E depois temos o caso *daquelas* aparelhagens, com colunas que custam mais que vários anos de ordenado de um trabalhador normal - e que, nessas sim… ouve-se *tudo*. (aí já nem discuto tentar lá fazer passar um MP3! :)


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  2. 20/Jan/2009 | 12:10

    É precisamente por o MP3 ser um lossy format que se perdem as frequências que são inaudíveis aos nossos ouvidos (quer nas baixas, quer nas altas). Mas essas, também fazem parte da qualidade do som. Poderia agora entrar na escrita do porquê do que escrevi, mas apesar de ser Físico não estou com pachorra para o fazer e provavelmente, ninguém com ela para o ler :P


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  3. 20/Jan/2009 | 13:00

    Preocupa-me pouco esta questão da qualidade do som dos auscultadores e se os adolescentes/jovens são sensíveis a esse problema ou não. Preocupa-me mais o facto de, hoje em dia, entre os adolescentes/jovens não haver qualquer cultura musical, isto é, a vontade de saber mais das músicas e dos autores, seguir carreiras atentamente e ter a sensibilidade de apreciar as músicas mais profundamente, perceber que há álbuns que fazem sentido ouvir do princípio ou fim, ou tentar saber um pouco mais da história por trás de um álbum/música/autor, etc…

    Mas não, hoje a preocupação é se têm o último hit da moda no telemóvel ou no leitor de mp3. Já não há a cultura de procura de novos artistas e explorar outros tipos de música. Os miúdos só ouvem o que “se ouve na escola”.

    O problema dos auscultadores é muito secundário face a este problema.


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  4. 20/Jan/2009 | 13:02

    Infelizmente, estou em sintonia contigo nesse aspecto. Assim é, de facto.

    Mas também vai muito dos pais. Eu ao meu filho já lhe dou boa música a ouvir desde os 5 anos mais ou menos.
    Não é à força bruta, é mais ao estilo “vê lá se gostas desta música” (sempre uma “estratégica” por mim escolhida, outras vezes é por acaso: http://www.apeadeiro.org/eu/eu-o-meu-filho-e-o-bon-scott).
    E assim, ele já me vai pedindo para pôr “aquela da Kate Bush”, a outra dos Pink Floyd (The Great GiG In The Sky), uma ou outra dos AC/DC, o BlackBird dos Beatles, uma Canção de Coimbra do Zeca Afonso e mais umas quantas. Sempre que ele gosta de uma a ponto de depois me pedir para a passar outra vez e cantá-la, gravo um novo CD com mais essa. Assim, ele tem sempre um “CD updated” :) com boa música e da qual ele gosta para poder ouvir em casa.

    É a minha estratégia para lhe dar uma boa educação musical. Até agora tem dado excelentes resultados.
    Mas as estratégias certas também variam com as crianças. E acima de tudo, é preciso que estejam abertas a ouvir coisas diferentes do que as musicólas dos Morangos com Açúcar.


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  5. Carlos Afonso
    20/Jan/2009 | 13:35

    Pensava que te quererias referir a colunas, (nestas o bling conta muito ) http://www.stereotimes.com/RMAF2008k.shtml ou a auscultadores decentes.

    Não sabia que se conseguia classificar de musicólas ao ruído que acompanha a bosta Morangos com Sal. Pensava mesmo ser só ruído incluindo as respectivas imagens.

    Quanto à estratégia de apresentação de música decente a crianças e jovens parece ser boa. Tenho sobrinhos e um tem bom gosto a outra, deus meu, parece o meu pai a ouvir (ele é surdo mas mesmo assim tem gosto musical embora um pouco desactualizado, nada de espantar em alguém com 87) quando nós falamos.


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  6. 20/Jan/2009 | 13:45

    Também já estava farto de ouvir as musicas da manita, 9 anos mais nova, e lá tive de lhe dar uns qts cds com musicas dos 80 e 70 (Rock, metal e algum pop) foi tiro e queda a partir dai os gostos dela mudaram, e um dos cd’s até rodou a turma dela pq os putos não conheciam aquilo e diziam que era porreiro.


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  7. 20/Jan/2009 | 14:28

    Os meus CDs também se ficaram praticamente todo pelos 70/80/90s… mas isso acho que acontece um pouco com todas as gerações.

    @António Lopes
    Dizes que hoje em dia os jovens não acompanham as bandas - o problema não é esse (basta ir a qualquer concerto de música ao vivo e ver que está quase sempre cheio.) O que acontece, IMHO, é que já não há a cultura dos grandes “monstros” que havia no século passado.

    Aliás, os “grandes” de quem se continua a falar são quase sempre os mesmos que já existem há várias décadas.
    (Claro que há excepções, e eu tb não posso dizer que esteja muito informado sobre as bandas mais recentes.)
    Hoje em dia parece-me que é mais a política do “fast-food musical”.

    A tradição do album, como existia na época dos LP, parece ter acabado - um CD hoje, é quase sempre apenas uma colectânea de um amontoado de músicas à balda, em 50% estavam no CD anterior, 25% são remixes dos “êxitos”, e depois lá vem 1 ou 2 músicas novas.

    @Mário
    Eu sei o que queres dizer… mas a audição é altamente subjectiva. Lembro-me de, há uns largos anos ter lido sobre uma experiência, de uns engenheiros que fizeram a “coluna perfeita”, com feedback-loop, que reproduzia fielmente o sinal de entrada.
    Nos testes auditivos, todas as “cobaias” preferiram outras colunas, que “adulteravam” o som, mas cujo resultado se tornava mais “cheio”, ou mais “melodioso”, ou agradável, ou etc.
    Claro que um MP3 nunca vai ter a qualidade de um original, ou de um codec lossless (como o FLAC por ex.) - mas no que se refere à relação tamanho/qualidade… nesse aspecto é merecedor por ter sido o primeiro a conseguir fazer o que fez, e dar início à revolução que hoje em dia é algo… inerente à música.

    Por mim, não tenho problema em adequar a compressão ao sítio onde as vou ouvir. Se em casa tem prioridade o lossless, para ouvir no carro (com colunas semi-foleiras) chega-me perfeitamente um mp3 a 192Kbps.


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  8. 20/Jan/2009 | 22:04

    Como resposta ao seu artigo, no meu blog - http://rmartins.org/?p=54

    Parabéns pelo blog.

    Cumprimentos


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  9. 23/Jan/2009 | 13:50

    Olá,

    Penso que te referes a música digital, como deves saber existem vários ‘bit rates’ para quantificar a qualidade sonora.

    Quanto a musica Electrónica da Minha Geração, é uma arte, é preciso entender e saber ouvir. Estou de acordo que 90% da musica electrotécnica que se ouve não tem pés nem cabeça, mas é como em todos os estilos de musica.

    Acredito que mudarás de opinião quando assistires a produção de uma boa faixa, e te aperceberes de que cada som presente foi criado, e que estes podem nunca ter existido com instrumentos da idade da pedra. Vai ao Boom ver um live act.

    As gerações são fruto das anteriores, acredito na evolução, se somos rascas, é porque a tua geração ainda mais rasca era.

    Vá sem mais desenrasco de momento
    Silvino


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  10. 23/Jan/2009 | 14:15

    Boas,

    Só uma pequena nota: eu não escrevi que a tua geração é rasca. Escrevi que é a da qualidade de som rasco e até escrevi que nem eram os únicos culpados disso. Vai lá ler o artigo outra vez - com atenção e sem ser na diagonal - e depois diz-me qualquer coisa.

    Mário


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  11. pem
    27/Jan/2009 | 19:29

    Boas, gsotei bastante de ler este artigo sobre a qualidade da musica que se ouve hoje em dia, concordo com quase tudo o que dizes:
    - Os auscultadores que vem com o Ipod nao sao assim tao maos, tendo em atenção que sao uns auscultadores baratos.
    - Quanto ao MP3… Bem poderemos dizer que a 44100Hz com 320Kb/s de bitrate consegue igualar um CD na maioria dos sistemas caseiros.
    Ja agora nao nos queres brindar com o teu parecer fisico sobre a perca de qualidade nos MP3(pode nao ser para agora), tambem gostaria de saber a razao da tua preferencia por OGG(pode ser que me obrigues a ripar a coleção de novo).

    @Silvino
    Tipo comparar musica com o que se faz no Boom Festival, não é justo para o Boom, ate porque 99% das pessoas que estao no festival, nao estao em condiiçoes de decidir o que é qualidade sonora…


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  12. 27/Jan/2009 | 20:01

    @pem: Penso que te falta um “excepto” algures na primeira frase.
    Os auscultadores do iPod, foram aqueles que eu ouvi. E sim, eram muito maus.

    Um MP3 nunca consegue igualar um CD caseiro, porque o seu formato corta as frequências inaudiveis pelo ser humano, quer nas baixas, quer nas altas.
    Contudo, estas frequências, também “fazem parte” da qualidade do som. Tem que ver com interferências de ondas, modulação, mas explicar a teoria toda, dava para um livro.

    Numa nota à parte, a qualidade de som dos CDs também varia muito. Porque sendo som digital e “sampleado”, depende muito da qualidade do material do estúdio onde foi gravado, dos engenheiros de som, etc., etc., etc.

    Quanto à minha preferência por OGG em lugar de MP3, podes ver por ti próprio em http://ixbtlabs.com/articles/oggvslame/

    @Carlos Martins: Não há a “coluna perfeita”, porque não há nenhuma que consiga reproduzir fielmente o sinal de entrada (nem o de saída respectivo). Mesmo usando jacks e afins em ouro, há sempre sempre infidelidadades. E perfeição, é coisa que não existe em Física (nem em nada, for what its worth).

    Já experimentei o FLAC e realmente há qualquer coisa ali. Mas nada que me faça cair o queixo de espanto.
    Prefiro de longe o som holográfico que o Roger Waters usou nos CDs The Pros And Cons Of Hitchhiking e no Amused To Death. No primeiro, só como exemplo, assim que começa a tocar e ouves os cães a ladrar baixinho, ficas logo a olhar para fora de casa a pensar que é lá que estão cães de carne e osso a ladrar.


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  13. pem
    27/Jan/2009 | 23:45

    Tens razao falta um excepto na primeira frase.
    Em relação ao OGG vs MP3, o teste que apresentas demostra que ambos os coders estavam em quase igualdade quando o teste é feito com altos bitrates(que é o que me imtressa), mas o teste usa versoes bastante antigas(2001), pelo que neste momento um deles pode-se destacar do outro.
    Assim sendo por agora vou-me manter no MP3 a 320Kbit/s.
    Portem-se.


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  14. 28/Jan/2009 | 08:15

    Por acaso reparaste na parte que diz:
    “It is impossible to code non-stop albums into the MP3 format without pauses, since files always have to have pauses in the beginning and in the end of tracks. The LAME can correct the beginning of files. In the Ogg Vorbis format files coincide with the originals completely. But this coder can code files only at the sampling frequency of 44100 Hz, i.e. in the CD-DA format. The OGG can work at 48000 Hz when coding files.”

    Isto para mim é extremamente importante porque ouço imensos álbuns (em CD original) ao vivo e conceptuais (que tipicamente não têm pausas entre faixas).

    Isto tem relevância no teu caso ?


    A usar Mozilla Firefox Mozilla Firefox 3.0.5 em Windows Windows Vista
atira-lhe uma pá de carvão

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