qualidade da música et. al
24/Jan/2009 @ 14:40 Música

Música é Arte. Música é Cultura. Mas antes destas duas, é entretenimento. Serve para as pessoas que a ouvem, gozarem do prazer que lhes proporciona. IMHO, tanto se diverte uma pessoa que ouça uma canção do Toy como eu a ouvir As Quatro Estações do Vivaldi. Costuma dizer-se que gostos não se discutem. Na generalidade, se isto é mesmo assim, não faço ideia nem quero fazer. Mas na música, penso que não são mesmo de se discutir.
No entanto, há a considerar a qualidade intrínseca da música. Como é óbvio, neste particular, a música do Toy está para a do Vivaldi como o olho do cu para o farol da Barra. E aqui inverto o meu raciocínio inicial, correndo o risco de me contradizer. É que embora o divertimento seja o mesmo nos dois casos, a riqueza superior de música de qualidade (leia-se bem composta – incluindo as quebras às técnicas de composição, que muitas vezes originam do melhor que a música tem –, bem executada, cantada por uma boa voz se for o caso, etc.), não só entretém, como educa a audição. Abrindo-nos as portas para um mundo novo e de novos sons. E aqui sim, dando uma volta à Terra em sentido contrário, chegamos à Arte e ao enriquecimento cultural.
Talvez devido à formação musical superior que tive, sempre que ouço alguma música pela primeira vez, não consigo evitar estar em tempo real a analisá-la do ponto de vista da composição. Mas mutatis mutandis, a música não precisa de ser complexa para ter a tal qualidade intrínseca, assim como o melhor guitarrista não é necessariamente aquele que consegue “solar” mais depressa, mas o que consegue sacar da guitarra um solo que faça sentido em relação à melodia que lhe está por trás (um caso paradigmático do que acabei de escrever, é o primeiro solo do David Gilmour na canção Comfortably Numb – o que vem imediatamente a seguir ao primeiro refrão).
O álbum The Pros And Cons Of Hitchhiking [1] do Roger Waters, está quase todo escrito em Lá m, Dó M, Fá M e Sol M (muito próximo até da chamada harmonia perfeita – Dó M, Fá M e Sol M). No entanto, a qualidade do álbum é de um nível absolutamente superior e as canções soam-nos distintas umas das outras. Como é que o gajo faz isto ? Não sei, mas sei porquê: é um excelente musico. Claro que o facto de o guitarrista (convidado) do álbum ser o Eric Clapton, deve ajudar um bocadinho :)
Portanto, nisto da música, há muitas variantes e contra-variantes. E a música não é um mundo, é um universo e para mais além ainda. Ouçam a música que quiserem e bem vos apeteça, mas se for da boa (:P), tanto melhor.

[1]: Depois do álbum Animals dos Pink Floyd, o Roger Waters queria que o seguinte fosse o The Pros And Cons Of Hitchhiking que até já estava em tape, tal como o The Wall. Foi por um triz, que o álbum mais conhecido deles tenha sido mesmo o The Wall e não o outro que depois aproveitou para seu primeiro álbum a solo depois de se ter separado da banda.

-MG
rss 6 pás de carvão
  1. 24/Jan/2009 | 15:00

    Também fiz percurso académico de música durante muitos anos e também tenho uma proximidade enorme com a música erudita. Em primeiro lugar, alguém que gosta realmente de Pink Floyd, é alguém merecedor de um lugar na categoria de apreciador de boa música. A música, como qualquer outra arte, não se mede ao número de notas, à complexidade harmónica ou melódica nem muito menos à velocidade com que é tocada (porque nesse caso seriam as máquinas os melhores músicos), é aqui que entra a sensibilidade estética de cada um, ou a inexistência dela (é disto que sofre a maioria dos jovens actualmente), e é aqui que aproveito para apontar o dedo à formação académica, porque, embora dependa muito dos professores e das escolas, esta incide em demasia sobre as componentes teóricas ou mesmo de execução e esquece-se de algo que compõe 90% de um bom músico: um bom ouvido, bom gosto (note-se que tal não se define, nem muito nem pouco, por fundamentalismo mas sim pela eclesia) e vasta experiência auditiva.
    Mais uma vez, é tudo uma questão de educação, que deve passar pela escolaridade obrigatória.


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  2. 24/Jan/2009 | 15:36

    “A música não se mede (…) à velocidade com que é tocada (porque nesse caso seriam as máquinas os melhores músicos)”
    Aqui não estou de acordo, se percebi bem o sentido das tuas palavras.
    Porque é que a base e os breaks de baterias-máquinas nos soam a falso ?
    Porque os tempos entre as percussões são exactamente iguais. Ao contrário, se uma bateria for tocada por um musico, nunca conseguem ser.
    E paradoxalmente, é isto que faz com que o é sacado da bateria-humana, nos soe a verdadeiro e não a falso. Mesmo as actuais baterias-máquina que introduzem pequenas e aleatórias diferenças nesses tempos, não conseguem ainda atingir o nível de uma bateria-humana.

    A boa música também é feita de imperfeições.


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  3. 24/Jan/2009 | 15:56

    Mário, não podia estar mais de acordo consigo. E foi isso mesmo que disse, fiquei baralhado agora com a sua interpretação.

    “A música não se mede à velocidade a que é tocada”, precisamente, não vem das máquinas a boa música, concretizando: Satriani, Vai e afins não chegam a bons músicos, estão mais perto de máquinas do que da música (que é toda ela humana, isto ninguém pode contrariar. A arte é humana, subjectiva e imperfeita)


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  4. 25/Jan/2009 | 03:22

    Grande album do Roger Waters :o)


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  5. 18/Fev/2009 | 14:02

    Viva,

    obrigado pelo comentário no meu blog, e tenho a dizer que concordo completamente com o que dizes aqui. Se por um lado “gostos não se discutem”, por outro lado é um facto que há bons e maus músicos, bons e maus vocalistas, e bons e maus compositores. Não censuro ninguém por ouvir música de rádio, e sei que a minha música é “só barulho” para quem ouve principalmente a anterior, mas nunca me venham dizer que têm a mesma qualidade em termos musicais. Mas se pimba, martelinhos e pseudo-alternativa angsty emo os diverte… é com eles. :)

    E, como podes ver aqui, também adoro Pink Floyd. :)


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  6. 18/Fev/2009 | 14:05

    Rui, Satriani não é completamente o meu género de música (se vamos a esse estilo de guitarristas, prefiro o estilo mais metálico e neoclássico do Malmsteen), mas ele é um excelente músico, com um grande sentido de melodia (coisa que tanto o Mário como eu apreciamos, por exemplo, no Gilmour). Não é por alguém ser incrível tecnicamente que deixa de ter “alma”. :)


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atira-lhe uma pá de carvão

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