sobre as vozes dos pink floyd
28/Jan/2009 @ 09:15 Pink Floyd

Assim de repente, dentro da música rock e pop (e nas suas diversas variantes), não estou a ver outra banda que não os Pink Floyd que tenha aproveitado o facto de os seus quatro membros saberem cantar a fim de extrair o máximo possível da sua música. Depois da fugaz liderança do falecido Syd Barret, o Roger Waters sempre foi o vocalista principal. Mas sendo ele mais um ditador do que um líder, teve também a visão (ou o egoísmo para seu próprio proveito) de saber reconhecer que algumas canções passariam bem melhor sem ele. Pelo menos parcialmente.
Vou dar alguns exemplos do que acabei de afirmar, sem qualquer ordem de prioridade. Se alguém quiser acrescentar mais alguns exemplos, fazer uma lista semelhante e/ou diferente, com ordem de prioridade ou discordar do que estou a escrever, etc. sintam-se à vontade:

  • O Time nunca teria sido a canção que é sem o David Gilmour no estribilho e o Richard Wright no refrão;
  • O Comfortably Numb nunca teria sido a canção que é, desta vez com o Waters no estribilho e o Gilmour no refrão;
  • O Dogs nunca teria sido a canção que é se não tivesse sido interpretada em repartilha pelo Waters e pelo Gilmour;
  • O Fat Old Sun nunca teria sido a canção que é se não tivesse sido cantada unicamente pelo Gilmour;
  • O Echoes nunca teria sido a canção que é se não fossem as vozes do Gilmour e do Wright;
  • E finalmente – e para não tornar esta lista mais extensa – o Have a Cigar nunca teria sido a canção que é se não tivesse sido interpretada por alguém… exterior à banda: o Roy Harper. Aquele amigo e velho companheiro de estrada do Gilmour e com quem este participou nalguns dos seus projectos. Como por exemplo no belíssimo The Unknow Soldier (que também dá o nome ao álbum) com o Gilmour na guitarra acústica e o Harper na voz. Se não conheceres, saca que vale bem cada segundo que passares a ouvi-la. E por esta lista me fico que já estou a variar :)

Claro que podem argumentar que se as coisas tivessem sido diferentes (leia-se: o Waters nunca ter aberto a mão da sua voz, por exemplo), também as canções nunca teriam sido o que são – para melhor ou para pior. Concordo. Porém, atrevo-me a pensar que o ponto deste artigo é claramente óbvio para qualquer *verdadeiro fã* da banda. Mas hey, também posso estar enganado.
Se me perguntassem qual a minha voz preferida, talvez hesitasse entre a rouca, bem afinada e de forte ataque da do Gilmour e a melodiosa, igualmente afinada mas com muito pouco ataque da do Wright. É uma escolha difícil (ainda mais dificultada pela enorme diferença – no bom sentido – dos respectivos timbres), mas talvez fosse pela do Gilmour. Dos três, sem sombra de dúvida que o mais limitado na voz é o Waters.
Mas também, e correndo o risco de me contradizer, os fabulosos Pigs On The Wing (Parts I and II) sem o Waters a só na voz, não teriam sido… fabulosos.

PS. Porque é que os Pink Floyd devem o seu som característico praticamente por inteiro à guitarra do Gilmour, fica para outro dia.

PPS. Houve outras bandas que tendo tido os mesmos recursos (leia-se: vários dos seus elementos a saber cantar e bem), não seguiram a IMHO inteligente escolha dos Floyd. Por exemplo, nos Genesis, além do Peter Gabriel (enquanto ele lá esteve até ao The Lamb Lies Down On Broadway em 1974), tinham o Phill Collins, o Michael Rutherford, o Anthony Banks ou até o próprio Steve Hackett a saber cantar e bem. Mas foi sempre o Peter Gabriel o dono da bola da voz da banda.

PPPS. Quer-me cá parecer que este blogue está a ficar um bocado prò pseudo-intelectualóide. Tenho que sacar brevemente da manga um qualquer “artigo hard core” sobre Linux (as in Linux server) e/ou software que nele corra :P

-MG
rss 10 pás de carvão
  1. 28/Jan/2009 | 12:08

    “um bocado prò pseudo-intelectualóide. Tenho que sacar brevemente da manga um qualquer “artigo hard core” sobre Linux”… este blog ganha graça para mim quando reduz nesses temas, que até gosto de os ouvir e ler certas vezes, mas é quando diversifica os temas que o blog fica pujante.

    E este assunto das vozes dos Pink Floyd daria pano para mangas… Mas é acutilante saber que não sou só eu que partilho das mesmas opiniões (as músicas não seriam as mesmas se as vozes fossem outras ou sempre a mesma… que o Gilmour é aquele que melhor vocaliza (e o que tem a voz ao longo das décadas mais igual… que foi o génio de todos os 5 Pink Floyd quem fez da banda aquilo que é apesar de cada um deles ter emergido em tempos espaçados -e apenas uma só vez, com o TDSOM, mostrarem o cocktail total).

    No entanto, sinto que a grande elite dos *verdadeiros fãs* da banda atribuem a Waters um valor maior do que realmente tem.
    Waters foi genial e lider, enquanto durou, mas marca Floyd não é apenas ele…
    Tudo nasce sempre de ideias e nisso Waters foi sempre mais forte que os outros todos mas no caso Pink Floyd o que sobreviveu ao longo das décadas foi o som e é nesse pormenor que se menoriza habitualmente a importância vital de Wright, incluindo desde o inicio ainda com Barret até à zanga com Waters pela desvirtualização do som em The Wall- ironicamente um dos maiores sucessos da banda pela nova abordagem ao som. Apartir daí se deveria valorizar o porquê dos avisos de Wright: a verdadeira banda morreu a fazer o conceito “The Wall” (disco, concertos e filmes) e essa experiência devolveu-nos membros moribundos (não é á toa que cada qual intensificou as suas carreiras a solo nessa fase). Ele foi despedido por Waters porque ela acabava sempre por impedir o brilho de Waters: se reparamos bem na fase bem sucedida de 73-77, os conceitos idealizados por Waters um dos sons mais evidentes é o trabalho de teclas… no Dark Side a guitarra surge magnifica em Time, que é quando tem um momento dedicado, mas depois dissolve-se. Etc, etc…
    http://armpauloferreira.blogspot.com/search?q=richard+wright

    A guitarra de Gilmour não seria a mesma se não tivesse por trás as discretas paisagens das teclas de Wright, sem elas eram apenas solos de guitarra. O Gilmour percebeu sempre esse detalhe e não foi á toa que o repescou para os concertos de 2006/2007.
    http://armpauloferreira.blogspot.com/2008/09/david-gilmour-solo-e-o-live-in-gdansk.html


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  2. 28/Jan/2009 | 12:35

    Um verdadeirã fã dos Floyd. Que até sabe como eu referir os álbuns deles correctamente - TDSOM.
    Tens razão em tudo o que dizes.

    Eu é que falhei ao escrever:
    “os Pink Floyd devem o seu som característico praticamente por inteiro à guitarra do Gilmour”.
    Porque deixei o Wright “de lado” (a quem o Waters chamava desdenhosamente de Richard Wrong)”.
    Fi-lo, porque já não tinha tempo para mais. Mas mesmo assim, deixei a porta aberta para falar dele no artigo futuro através da palavra “praticamente”.

    De qualquer modo escrevi isto aquando da sua morte (o bold é meu):

    Foste tu [Richard Wright] sempre que entre as vergastadas do Roger no baixo e a guitarra do David, mantiveste as peças todas juntas. Como disse o David, vais ficar injustamente subvalorizado na História dos Floyd, mas para quem conhece bem a vossa música, simplesmente não. Como esquecer o refrão de Time, as teclas em Welcome To The machine ? Em Dogs ?”
    em:
    http://www.apeadeiro.org/musica/richard-wright-partiu-o-floyd-suave

    E quanto ao Waters e à sua tortuosa e ditatorial maneira de liderar a banda, escrevi (também na altura em que o Richard morreu):
    http://www.apeadeiro.org/pink-floyd/ele-esta-a-ser-sincero-ou-e-um-hipocrita

    E numa nota à parte, não foi só a desvirtualização do som dos Floyd por parte do Waters no TW que terminou com a banda. É que no TFC, ele volta a bater no trauma da morte do pai dele e o Gilmour encheu com isso. Conforme se pode ler/ver/ouvir em várias entrevistas que concedeu.

    Tanto assim, que o Gilmour fez uma maldadezinha *simbólica* ao Waters no The Wall: usou uma Gibson em vez da Fender Stratocaster no solo do big hit do álbum: o Another Brick In The Wall - Part II :P


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  3. 28/Jan/2009 | 14:52

    Não sou propriamente um expert em música e posso/devo estar a meter uma grande argolada, mas todos os Fab Four/Beatles passaram pelo papel de vocalista principal.

    Outro banda onde quase todos os membros cantaram foi o caso dos Queen, penso que somente o John Deacon não tenha sido vocalista.

    Para baixar isto ainda mais, falta falar nos “Bois” Bands… que além de serem vocalistas também dançam….lol


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  4. 28/Jan/2009 | 15:05

    Eu não sou um grande fã dos Beatles. Mas pelo que conheço, tirando um caso ou outro, só o John Lennon e o Paul McCartney eram os vocalistas principais. O resto era mais… coro.
    Já agora, uma das minhas preferidas deles, é o “Something” que tanto quanto sei, foi composta pelo George Harrisson.

    Quanto aos Queen, era o Freddy e mais 3. Talvez só mais um bocadinho da guitarra do Brian May. E mais pelo timbre do que por outra coisa. Já agora, sabes que é um português que lhe faz à pata os pick-ups das guitarras ?

    PS. As boys bands não contam para esta festa :P


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  5. 28/Jan/2009 | 16:56

    Isso do “pseudo-intelectualóide” era desnecessário, não vá por aí porque é precisamente de artigos deste nível de que a blogosfera carece e que me têm trazido aqui, artigos sobre Linux há por aí aos pontapés (embora também os leia porque são da minha área e interesse).
    Quanto a Pink Floyd define-se por uma só palavra: grupo. O nível é enorme em albuns como “On an Island” do Gilmour a solo ou “Amused to Death” do Waters ou até o “Wet Dream” do Rick, mas nunca conseguem igualar o nível e mística que tinham os Pink Floyd. Quanto a vozes: a minha preferida é o vozeirão teatral de Roger Waters, o The Wall não era nada sem isso, mas claramente que não serve para outro tipo de músicas, onde o Gilmour tem um enorme desempenho. O que acho “delicioso” são os duetos Gilmour e Wright.


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  6. 28/Jan/2009 | 17:20

    Mas, IMHO, o TW também não era nada sem o Gilmour no refrão do Comfortably Numb e nos dois solos da mesma canção, por exemplo.

    Quanto aos duetos Gilmour-Wright perfeitamente de acordo. Aqui fica um (não é bem um dueto, é mais o Wright a cantar e o Gilmour a solar):
    http://www.apeadeiro.org/sotao/Brw.zip


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  7. 28/Jan/2009 | 18:26

    Esta música foi tocada no concerto acústico do Gilmour, onde participou Wirght. DVD que tive o prazer de adquirir assim que apareceu nas lojas, é fantástico, recomendo.


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  8. 28/Jan/2009 | 21:21

    Também o tenho.
    O som do MP3 foi ripado de lá :)


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  9. 28/Jan/2009 | 22:33

    “Já agora, sabes que é um português que lhe faz à pata os pick-ups das guitarras ?” Não sabia… mas também é verdade que há sempre um português em todos os cantos do mundo, pelo menos …

    Mas sobre os Beatles, a música “Something” dos Beatles foi escrita pelo GH e é ele o vocalista principal. Segundo o que li no wikipedia, por isso vale o que vale, todas as músicas escritas pelo George Harrison tem como vocalista principal o próprio. E pelo que pode ver no wikipedia, eles os 4, estão como vocalistas principais em todos os álbuns, tendo o John e Paul maior número de músicas, o Ringo e George tinham pelo menos uma música por album como vocalista principal. O Yellow submarine é o Ringo Starr o vocalista ….


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  10. 28/Jan/2009 | 23:00

    Ok, mas isso parece ser mais uma “regra interna” dos Beatles.
    Nos Pink Floyd, eram escolhidos os que mais se adaptavam a certas músicas, independentemente de quem as tivesse composto. Como escrevi, “a fim de extrair o máximo possível da sua música”.

    Mas pronto, cada um é que sabe :)


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atira-lhe uma pá de carvão

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